segunda-feira, 18 de junho de 2007

Se falo do falo

Desfaleceu o falo.
E se falo nisso
é porque não há segredos,
só ilusão de privacidade.
Porque é preciso acreditar.
Não acredito no escondido.
O escondido é o sentir iludido...

Desfaleceu em falos culturais.
Poderes, consumo, e fama.
A estocar lixo em aterros.
O coração explode em dor.
O cerebro se revolta.
Derrama-se da bouca o grito.
O grito que se escondeu,
mas que de tanto reprimido
rompe o silencio em rugido.

Chega disto e daquilo!

Nu me encaro como agente
Por não expressar esse grito.

Grito, grito e grito !

Se me respeita ou ama,
tenha paciência comigo.

Se às vezes digo que as flores sorriem

Se às vezes digo que as flores sorriem
E se eu disser que os rios cantam,
Não é porque eu julgue que há sorrisos nas flores
E cantos no correr dos rios...
É porque assim faço mais sentir aos homens falsos
A existência verdadeiramente real das flores e dos rios.

Porque escrevo para eles me lerem sacrifico-me às vezes
À sua estupidez de sentidos...
Não concordo comigo mas absolvo-me,
Porque só sou essa cousa séria, um intérprete da Natureza,
Porque há homens que não percebem a sua linguagem,
Por ela não ser linguagem nenhuma.


Do mestre Caieiro como dizia Alvaro de Campos


Alberto Caiero - Ficções do Interlúdio

domingo, 17 de junho de 2007

O mendigo Universal



Vinha pela rua o mendigo, na cidade grande da sociedade mais privilegiada
Era para mostrar que a miséria não é algo que se elimina através da riqueza.
A miséria existe em qualquer grau de privilégios.
Lembrei do sermão que ouvi e me acalmou o espírito.

Sinto a tristeza de enxergar através dos meus pensamentos.
Não sinto prazer no meu enxergar pelo corpo.
Existe uma homogenia desértica.
A cidade é um enorme cemitério.
Os bairros se improvisam em guetos,
Acampamentos para a sobrevivência.

Nas entranhas baratas, ratos, bois e homens.
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Um nada de tudo

Perdi o que nunca encontrei ou tive
Uma sensação de nada, vazio, branco ou escuro
Um nada de tudo é desabafo, confissão, mentiras e verdades
Mentiras introjetadas como verdades na cegueira cotidiana da cultura
Coisas que desejos não suprem
Dores, pois ter consciência doi.